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Sejamos felizes, sejamos virtuosos

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Por Ives Alejandro Munoz

 

Um dos livros mais famosos da filosofia antiga argumentava que as virtudes – nossas excelências – deveriam ser desenvolvidas pela vontade. Da mesma forma como a prática nos leva a aprender a andar de bicicleta ou a tocarmos cada vez melhor um instrumento musical. Tornar-se virtuoso exige dedicação. A virtude é o meio termo entre um excesso e falta relativo a nós. Um indivíduo corajoso não é um imprudente, tampouco um covarde, ele está na justa medida, no meio termo do seu comportamento.

De maneira geral, pessoas boas tendem a sentir prazer nas suas ações nobres, que podem acontecer por acaso ou por desejo. Mas essa nobreza será realmente virtuosa apenas se ela for dirigida pela nossa razão. Por isso, virtudes não são sentimentos nem emoções, mas disposições racionais para estar entre o excesso e a deficiência, sendo como resultado as qualidades de caráter demonstradas por excelentes pessoas, que a ajudarão inclusive a realizar o potencial do que há de melhor dentro dela.

Platão, um dos maiores filósofos gregos, identificou quatro virtudes principais ou chamadas também de “cardeais”: a sabedoria, a coragem, o autocontrole e a justiça. Muitas outras virtudes existem, todas importantes, as quais podem ser melhor percebidas como parte de uma família de qualidades relacionadas às virtudes cardeais.

E qual é a importância das virtudes nas nossas vidas? Bem, nos momentos de reflexão e de tomadas de decisão elas podem nos ajudar a viver melhor. Sendo corajoso consigo lidar melhor com o medo. Com autocontrole consigo gerenciar melhor os meus desejos, evitando que eles me levem por caminhos indesejáveis. Quando sou justo, posso promover a justiça e também a gentileza, tratando melhor todos ao meu redor. E tornando-me cada vez mais sábio posso me tornar melhor no julgamento e nas ações que realizo diariamente.

Nos modernos estudos entre felicidade e virtudes há uma forte relação, em especial, quando envolve outras virtudes, como por exemplo, a esperança, a gratidão ou a gentileza. Essas disposições criam um círculo virtuoso que opera tanto para nutrir o indivíduo como para aumentar o bem-estar, e no fim a felicidade. Se somos gentis com as pessoas, como resultado provavelmente nos sentiremos mais felizes. Outras pessoas podem retribuir a gentileza aumentando a sensação de bem-estar coletivo, reforçando ainda mais a gentileza em mais pessoas.

A psicologia sabe o valor da promoção das virtudes e como desenvolvê-las. Martin Seligman e Christopher Peterson criaram iniciativas para fortalecer e medir as virtudes, que eles chamam de Forças de Caráter. Contudo, a aplicação das iniciativas ou intervenções deve ser cuidadosamente analisada com sabedoria, caso contrário, podemos, por exemplo, acabar aprovando a coragem de um ladrão.

Por isso as lições de escolas filosóficas antigas, como a dos estoicos, são importantes. Uma dessas advertências é que a sabedoria deve sempre respaldar as virtudes, sabendo quais virtudes são necessárias e em que situações elas devem ser utilizadas. Mas isso está longe de ser uma tarefa fácil. Devemos ter em mente que aplicar no momento certo, de maneira certa, por motivos certos é uma habilidade a ser desenvolvida. Às vezes podemos errar a medida, não ser o suficiente, mas ainda assim dignos de elogios. Às vezes podemos perder a chance de sermos virtuosos. Podemos também ajudar os outros a serem virtuosos, o que resulta no reforço das nossas próprias virtudes, que potencializa a felicidade, já que em parte, ela é o exercício das virtudes.

Mas de nada adianta conhecer as virtudes se não as colocamos em prática a partir do hábito. Nos tornamos justos praticando o hábito de sermos justos. Somos mais empáticos praticando o hábito da empatia. Cada hábito e cada disposição são confirmados e fortalecidos pelos atos correspondentes. Somos repetidamente o que fazemos. A excelência é mais que um ato, é um hábito, em prol da nossa melhor versão. Podemos começar hoje, decidindo que virtudes quero ou preciso trabalhar em mim, seja por atos de bondade e gentileza aleatórios, ou refletidos. Sendo ousado, proponho a todos buscar uma vida virtuosa, para além do bem-estar individual, mas para o interesse de uma sociedade cada vez melhor.

 

Prof. Me. Ives Alejandro Munoz é Filósofo e cientista cognitivo, realiza estudos em ciência da sabedoria, virtudes e felicidade. Membro do Greater Good Science Center da University of California, Berkeley, da Universidade do Bem-Estar e presidente do Instituto de Ética e Felicidade.

 

* A opinião manifestada é de responsabilidade do autor e não é, necessariamente, a opinião do IES

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